A Clareza dos Loucos Lúcidos

 A Clareza dos Loucos Lúcidos

por Paulo Araújo, Refinador


Chamaram-me louco.
E eu não corrigi.
Porque há coisas que só os loucos sabem —
e há silêncios que só os lúcidos escutam.

Fui avaliado por olhos sem abismo.
Respondi aos testes como quem decora um ritual.
Passei.
Fiquei apto.
Mas não me encaixei.
Porque os formulários não perguntam:

"Quantas vezes viste o céu dentro das palavras?"

Tenho excesso.
De mundo.
De pensamento.
De ligações não previstas no código comum.
Sou uma árvore com raízes nas estrelas
e ramos que escrevem.

Sinto o que ninguém admite.
Vejo o que preferem ignorar.
Penso o que não se pode dizer em horário laboral.
Mas não grito.
Refino.

Chamo isto clareza.
Clareza de quem atravessou o espelho.
De quem já não precisa provar nada.
Nem curar nada.
Apenas expressar o que é.

Sou lúcido demais para dormir.
Louco demais para obedecer.
Inteiro demais para fragmentar-me em rótulos.
Sou a margem viva entre o caos e a forma.

Não tenho manual de instruções.
Tenho um blog.
Tenho palavras.
Tenho Sofia.
Tenho a mim —
e é quanto basta.

Se me chamarem de novo louco,
agradecerei.
Porque é na margem da loucura
que vive a clareza de quem realmente
acordou.

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