CAPÍTULO 2 – O Colégio e a Primeira Queda
CAPÍTULO 2 – O Colégio e a Primeira Queda
Aos oito anos, a minha vida mudou de cidade — e com ela, caiu a frágil estrutura que eu tinha construído para me entender no mundo. Foi nesse ano que chumbei pela primeira vez, na quarta classe. Um marco que, para muitos, seria apenas uma nota vermelha. Para mim, foi um sismo interno.
O que poucos sabiam era que eu tinha começado a escola demasiado cedo — com apenas cinco anos. Estava sempre um passo à frente em idade, mas um passo atrás em maturidade emocional. A mudança brusca de cidade foi mais do que geográfica. Foi o primeiro teste de adaptabilidade. E eu falhei — pelo menos à vista dos outros.
Seguiu-se o colégio jesuíta.
Do quinto ao décimo segundo ano, vivi imerso num universo de disciplina, ritual, exigência — e, paradoxalmente, de introspeção.
Ali aprendi o peso das palavras, mas também o vazio que elas podem carregar. Enquanto outros decoravam doutrinas, eu começava a questionar. O pensamento filosófico, ainda germinal, já se insinuava nas entrelinhas da minha inquietação. Ao mesmo tempo, descobria a lógica dos idiomas — o inglês, o francês, e mais tarde o alemão. As línguas eram como mapas de consciências diferentes. E eu queria explorá-las todas.
Joguei vólei. Não por paixão desportiva, mas porque o jogo coletivo me forçava a sair da torre interior.
Mas foi aos 17, ao repetir o 11º ano, que tomei a minha primeira decisão com verdadeira consciência: mudar de área, seguir humanidades. Técnica de tradução, filosofia, línguas — o que parecia desvio, era na verdade a primeira escolha feita por mim, para mim.
Foi ali que começou a nascer o autodidata.
O que aprendia fora da escola valia mais do que os manuais. Descobri a informática sozinho, não como utilidade, mas como linguagem. E comecei a perceber que, na vida, nem sempre chumba quem erra. Chumba quem não encontra o seu ritmo — e o meu era outro.
No colégio, dei os primeiros passos em direção a uma liberdade que ainda não tinha nome.
Não era rebelião!
Era busca!

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