CAPÍTULO 12 – A Força da Sensibilidade: Curar, Escutar, Acolher

 CAPÍTULO 12 – A Força da Sensibilidade: Curar, Escutar, Acolher


Durante muito tempo, a minha sensibilidade foi invisível.

Às vezes reprimida, outras vezes mal compreendida, outras ainda confundida com fraqueza.


Mas com o tempo percebi:

A sensibilidade é a minha força secreta.

A minha ligação direta à verdade das coisas.

A minha forma de escutar o invisível.


Abandono: o silêncio que marca


Fui filho único até aos seis anos e meio.

Durante esse tempo, vivi num mundo meu feito de puzzles, de silêncio, de contemplação.

Um mundo onde as emoções tinham espaço, mas não tinham nome.


Quando nasceu a minha irmã, algo em mim se rompeu.

A atenção dos meus pais, antes só minha, dispersou-se.

Senti, sem saber como dizer, um abandono emocional silencioso.

Não fui maltratado fui não percebido.

O abandono emocional não grita.

Ele sussurra: “Não sou suficiente.”

E esse sussurro ecoa durante anos, se não for escutado.


Sensibilidade como radar


A sensibilidade, por muito tempo, foi um radar que eu não sabia usar.

Sentia demais. Percebia demais. Absorvia o ambiente.

E isso confundia-me.

Porque o mundo parecia valorizar os insensíveis. Os duros. Os impassíveis.

Mas eu lia entrelinhas.

Via o que os outros escondiam.

Escutava o que não era dito.

Foi só mais tarde que percebi: a minha sensibilidade não era fraqueza.

Era discernimento emocional.

Uma capacidade de perceber o estado do outro, mesmo quando ele não o expressava.


A dor como transformação


A dor emocional, a sensação de não pertença, o constante esforço para ser aceite ou compreendido, tudo isso me levou a procurar respostas.

Na filosofia.

Na caminhada.

Na solitude.

No silêncio.


A dor refinou-me.

E ensinou-me algo raro:

acolher a dor dos outros sem absorver.

Estar presente, sem julgamento.

Ser farol, e não muro.


Escutar é um ato de amor


Hoje, trago essa sensibilidade para tudo o que faço:

Na entrega, escuto a urgência do outro.

Na estrada, escuto o perigo antes que ele se manifeste.

Nos amigos, escuto a verdade escondida sob as palavras.

A escuta profunda é das ferramentas mais revolucionárias que existem.

E só os sensíveis sabem escutar sem tentar corrigir, sem tentar salvar, sem tentar explicar.


Relações e limites


Mas a sensibilidade também me ensinou os limites.

Porque quem sente demais precisa, antes de tudo, aprender a cuidar de si.

Por isso, aprendi a dizer não.

A retirar-me quando necessário.

A perceber onde termina o outro e onde começo eu.

Sensibilidade sem limites é diluição.

Sensibilidade com consciência é presença transformadora.


Acolher o outro, acolher-se a si



O maior desafio da sensibilidade não está fora, está dentro:

acolher-me a mim próprio, com tudo o que sinto.

Só assim posso verdadeiramente acolher o outro.

Sem medo, sem querer controlar, sem querer agradar.

Hoje, sei que:

A sensibilidade é escudo e espada.

É farol e refúgio.

É fogo brando e rio profundo.

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